RURALIDADES
Na casinha branca,
coberta pelo luar, a linda pastora acabara de se deitar. Precisava descansar,
pois queria sair cedo, arranjar um bom lugar, nas Feiras Francas, para vender
os queijos, que andou a preparar.
Para tudo correr bem, vender sem regatear.
Para tudo correr bem, vender sem regatear.
Sofria pelas mulheres, que ao
ver as horas passar, os feijões, os ovos a ficar, de braços estendidos quase a
suplicar.
“Freguesa, leve por aquilo que quiser dar, quero apanhar a carreira, o tempo está a passar”.
“Freguesa, leve por aquilo que quiser dar, quero apanhar a carreira, o tempo está a passar”.
Manhã bem cedo, a alvorada a espreitar, bateu-lhe no rosto, ajudou-a a despertar. Depressa se arranjou partindo ravina abaixo, feliz ia a trautear. À esquerda e à direita descendo devagar, para não escorregar, nas pedras que a chuva de Maio tinha andado a arrastar, sentiu atrás de si qualquer coisa a farejar. Voltou-se, era o seu cão, aos pulos a saltitar.
Bem lhe fazia ameaças, para o rafeiro voltar, mas ele, teimoso, aparecia logo à frente, com o rabo abanar. Sem mais tempo para o escorraçar, ergueu o braço, para carreira que se estava aproximar. Colocou o cesto na mala, enquanto o safado do cão, por entre as pernas do povo, arranjou a se enfiar. Para não o entregar, ao cobrador que se estava aproximar, fez-lhe sinal com o dedo para ele se calar. À entrada para os saudar, estava um arco com letras grandes a destacar. SEJAM BEM-VINDOS/ AS FEIRAS FRANCAS VÃO COMEÇAR. Enquanto a camioneta ia andando devagar, olhava pela janela, pensativa a observar, a vida que à sua volta não parava de girar. Com o destino prestes a mudar; vitelas, cabras, ovelhas, seguiam atrás do dono pelas bermas sem exitar.Com cestas de cerejas, frescos legumes acabados de apanhar, chegavam mulheres alegres, mesmo vindo a transpirar.
Cabeçudos, trampolineiros, o rancho já se ouviam as concertinas, mais ao longe a tocar, davam alegria à Feira, foguetes a estourar.
Cestinhas, carroceis, tendas com roupas, carteiras, colares e anéis para quem quisera comprar, um festival para os olhos de quem ia apreciar.
O cão escondido, com medo de se mostrar, levantou-se encostou o focinho, também queria espreitar.
Horas depois de chegar, feliz com o dinheiro que acabara por ganhar, a pastora pensou em se divertir, começou a passear. Junto de um amigo que acabou por encontrar, comeu tremoços, castanhas acabadas de assar. Depois juntamente com o cão que ficou de lado a espreitar, na tenda do fotógrafo, atrás das figuras que estavam a representar, tiraram um lindo retrato para mais tarde recordar.
Quando chegou a casa com trocos para guardar, já a noite se estendia, ao som dum belo luar.
F.M
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