O Zé, ficou contente por me ver, fez um comentário acerca da morte do meu pai, acompanhou-me até sua casa, junto da irmã Júlia, mas depressa regressou ao seu posto, na berma da estrada. Estava de serviço, à espera da carrinha que lhe costuma trazer pão. Sentadas perto da janela, ficamos à conversa eu e a Júlia, enquanto o sol espreitava por detrás das árvores. Falamos dos velhos tempos, de quando eu era criança e moravamos perto uma da outra, eu no lugar do Monte e ela no lugar de Vale Escuro, numa casa com umas grandes escadas de pedra. A Júlia, também me contou ao pormenor as circunstancias que levaram ao falecimento do marido, vai já para dois anos. Enquanto isso o Zé continuava do outro lado do jardim sentado na sua cadeira a acenar aos ocupantes dos carros que iam passando. Deu para perceber as boas relações de amizade que tem com a vizinhança, pela forma calorosa com que os cumprimentava à medida que iam passando.
José Gonçalves, ou Zé da Teresinha como é mais conhecido, é um cidadão muito estimado na freguesia de Fornelos. Apesar das suas diferenças, o Zé sempre esteve integrado dentro da comunidade e que se saiba nunca foi vítima de qualquer tipo de discriminação. Sempre muito bem disposto e amável, o Zé espalha alegria por qualquer sítio que passe. Aparece nas festas familiares, mesmo sem ser convidado, e é sempre muito bem recebido. Gosta de espalhar charme junto das mulheres na esperança de posar para a fotografia. O senhor Maximino, imortalizou o Zé num dos seus poemas, num acontecimento triste mas que teve um final feliz.
José da Teresinha
Dia vinte de Setembro,
fomos a uma excursão,
para a Póvoa de Varzim.
era a Senhora das Dores,
tudo correu de mil amores
mas houve um triste fim.
E quando chegou a hora,
fomos todos sem demora
para o local da partida:
mas perdemos a carícia
ao sabermos a notícia
de uma pessoa desaparecida.
Era um rapaz,
um pobre inocente
habituado a falar
para toda a gente
habitava com a sua irmã Julinha
e conhecido pelo Zé da Teresinha
E assim se acabou a alegria
e só reinava a tristeza
no coração daquela gente:
por tanto terem procurado
e ninguem ter encontrado
aquele pobre inocente.
E então o seu cunhado,
que se sentiu o culpado
por dele se descuidar,
foi à Polícia e à Rádio,
comunicar o caso
para o investigar.
E embora com pezar,
estávamos mortos por chegar
à nossa casa lembrada;
marcaram para as seis horas
saímos às oito e meia,
era já noite cerrada.
E no infeliz regresso,
já ninguem quiz fazer festa,
vinham todos a dormir.
Valdemar o que fizeste,
para outra vez não o tragas
ou então não queiras vir:
Ó Valdemar,
tu tens que ter mais cuidado
Quando levares contigo o teu cunhado;
que tanto te fez sofrer,
e a nós a alegria perder.
E a família preocupada,
nunca esteve descansada,
enquanto ele não apareceu,
e como era normal,
mandaram para o jornal,
o caso como se deu:
Só passado uma semana,
é que ele foi encontrado
foram-no buscar:
estava em Ermezinde,
já estava desconforme
de tanta fome passar.
Ó Valdemar,
tu não o leves,
por castigo
para qualquer lado
o teu cunhado contigo:
deixa-o ficar na sua terra Natal,
porque ninguem lhe faz mal.
Maximino Freitas
2 comentários:
Muito bonito o post madrinha.
bjo grande da afilhada Eduarda
Tambem gostei muito
Obrigada Eduarda
Muitos beijinhos
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