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sábado, junho 1

Dia da Criança


Num planeta cinzento, uma pequena pastora andava pelos montes a vaguear, procurando bons pastos para o rebanho  alimentar. Atrás de si, andavam dois leõezitos a farejar, a quem tinha dado emprego para as ovelhas guardar. Os leões, preguiçosos, refilões, não valiam dois tostões, volta e meia passavam-se dos miolos, levavam tudo aos encontrões. Pouco faziam, de cabeça deitada nas patas dianteiras, a maior parte do tempo só comiam ou dormiam. Um certo dia, depois do estômago abastecer, não se aperceberam do mostro enorme que subia a montanha para os comer. Encandeado pelo sol, o leão que estava a guardar, nem teve tempo de se queixar. Ao ouvir o estrondo das mandíbulas do dinossauro a mastigar, a pastora veio ver o que se estava a passar. Que espanto, ao confirmar, que o amigo leão mesmo sendo rei, não se conseguiu safar. Sem mais tempo para pensar, ordenou ao rebanho, para na gruta entrar. Com o dinossauro atrás de si a estrebuchar, correu serra acima para se salvar. De local seguro, já se estava aproximar, foi obrigada a estacar. Uma serpente, com uma bolsa de veneno para espetar, estava no caminho por onde tinha que passar. Impossibilitada de recuar, ofereceu-lhe uma flor que levava na sacola das mais lindas acabadas de apanhar. Colocou a flor em direcção ao nariz, com diplomacia lhe diz, que a achava muito bela, não lhe assentava bem essa história que a maldiz. Para o Criador, tinham o mesmo valor. Para quê tanto rancor? Arrependida a serpente, começou-se a desculpar, confessou ter sido enviada por uns malandros que a andavam a enganar. Com as lágrimas a rolar, aproximou-se da pastora para ver se lhe podia perdoar. Nesse instante, o dinossauro, massa bruta, sem capacidade para pensar, já se estava aproximar.
A pequena pastora, não podendo rastejar, atirou-se para uns penhascos a gritar, desesperada sentindo as pedras debaixo de si resvalar.
Os anjos, lá no alto a observar, começaram-se a chatear, já não estavam a gostar. Encheram-se de compaixão, apontando-lhe uma nuvem que nesse instante ia a passar. Salta para dentro dela, disse-lhe uma voz branda que tinha percorrido os céus para a salvar. Com o coração a cantar, a pastora, lá foi toda contente na nuvem a passear. Acenou à serpente que andava por entre os penedos a rastejar prometendo-lhe um presente quando pudesse regressar.

Dentro da nuvem, duma brancura sem par com o vento a empurrar, a pastorinha sentia-se tão bem como se braços divinos a estivessem a embalar. Antes de se deitar num monte de algodão que das paredes tinha andado a retirar, lembrou-se de espreitar, para ver o rebanho que fora forçada abandonar. Ao fundo do vale, pontos brancos, outros mais pequenos a saltitar lá andavam a rapar. O leão, que conseguiu escapar, estava em cima dum penedo, majestoso a controlar. O dinossauro, com vontade de a matar, caiu pela ribanceira, já se encontrava a penar.

Sentindo o sono chegar, deitou-se devagar, sentindo-se um grão de poeira no universo a flutuar . A nuvem seguia devagar, mas, foi perdendo ar, pelo buraco que lhe fizera para espreitar. Quando num prado verde se foi poisar, houve um leve trovejar, o algodão derreteu, obrigou-a a acordar.

Que desculpa iria dar, disse para os seus botões, caindo em si devagar. Se fosse contar, o sofrimento que foi obrigada a passar, quem iria acreditar? O melhor seria calar.
Quando chegou a casa, antes de entrar, foi ver se o rebanho se tinha recolhido como era de esperar. Fez uma festa ao leão pelo seu comportamento exemplar. Empurrou a porta, devagar, o fogo na lareira estava a crepitar, os pais estavam à sua espera, sorriram felizes, por ver a filha chegar.

Filomena Magalhães



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