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quinta-feira, fevereiro 24

José


O Zé, ficou contente por me ver, fez um comentário acerca da morte do meu pai, acompanhou-me até sua casa, junto da irmã Júlia, mas depressa regressou ao seu posto, na berma da estrada. Estava de serviço, à espera da carrinha que lhe costuma trazer pão. Sentadas perto da janela, ficamos à conversa eu e a Júlia, enquanto o sol espreitava por detrás das árvores. Falamos dos velhos tempos, de quando eu era criança e moravamos perto uma da outra, eu no lugar do Monte e ela no lugar de Vale Escuro, numa casa com umas grandes escadas de pedra. A Júlia, também me contou ao pormenor as circunstancias que levaram ao falecimento do marido, vai já para dois anos. Enquanto isso o Zé continuava do outro lado do jardim sentado na sua cadeira a acenar aos ocupantes dos carros que iam passando. Deu para perceber as boas relações de amizade que tem com a vizinhança, pela forma calorosa com que os cumprimentava à medida que iam passando.
José Gonçalves, ou Zé da Teresinha como é mais conhecido, é um cidadão muito estimado na freguesia de Fornelos. Apesar das suas diferenças, o Zé sempre esteve integrado dentro da comunidade e que se saiba nunca foi vítima de qualquer tipo de discriminação. Sempre muito bem disposto e amável, o Zé espalha alegria por qualquer sítio que passe. Aparece nas festas familiares, mesmo sem ser convidado, e é sempre muito bem recebido. Gosta de espalhar charme junto das mulheres na esperança de posar para a fotografia. O senhor Maximino, imortalizou o Zé num dos seus poemas, num acontecimento triste mas que teve um final feliz.


José da Teresinha


Dia vinte de Setembro,

fomos a uma excursão,

para a Póvoa de Varzim.

era a Senhora das Dores,

tudo correu de mil amores

mas houve um triste fim.


E quando chegou a hora,

fomos todos sem demora

para o local da partida:

mas perdemos a carícia

ao sabermos a notícia

de uma pessoa desaparecida.


Era um rapaz,

um pobre inocente

habituado a falar

para toda a gente

habitava com a sua irmã Julinha

e conhecido pelo Zé da Teresinha


E assim se acabou a alegria

e só reinava a tristeza

no coração daquela gente:

por tanto terem procurado

e ninguem ter encontrado

aquele pobre inocente.


E então o seu cunhado,

que se sentiu o culpado

por dele se descuidar,

foi à Polícia e à Rádio,

comunicar o caso

para o investigar.


E embora com pezar,

estávamos mortos por chegar

à nossa casa lembrada;

marcaram para as seis horas

saímos às oito e meia,

era já noite cerrada.


E no infeliz regresso,

já ninguem quiz fazer festa,

vinham todos a dormir.

Valdemar o que fizeste,

para outra vez não o tragas

ou então não queiras vir:


Ó Valdemar,

tu tens que ter mais cuidado

Quando levares contigo o teu cunhado;

que tanto te fez sofrer,

e a nós a alegria perder.


E a família preocupada,

nunca esteve descansada,

enquanto ele não apareceu,

e como era normal,

mandaram para o jornal,

o caso como se deu:


Só passado uma semana,

é que ele foi encontrado

foram-no buscar:

estava em Ermezinde,

já estava desconforme

de tanta fome passar.


Ó Valdemar,

tu não o leves,

por castigo

para qualquer lado

o teu cunhado contigo:

deixa-o ficar na sua terra Natal,

porque ninguem lhe faz mal.


Maximino Freitas


2 comentários:

eduarda disse...

Muito bonito o post madrinha.
bjo grande da afilhada Eduarda

Anónimo disse...

Tambem gostei muito
Obrigada Eduarda
Muitos beijinhos