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quarta-feira, janeiro 12

Oração em Movimento

Os Sufis e a Oração em Movimento de Maria-Gabriele Wosien.

Em um encontro entre cristãos e sufis dos nossos tempos, um padre cristão reconhece nas formas de vida e de fé dos dervixes mevlevi e no seu ser dançarino diante de Deus, algo de São Francisco de Assis. Assim conta Nikos Kazatzakis:“Nós paramos nas vizinhanças de um mosteiro turco, no qual viviam dervixes que dançavam todas as sextas-feiras. De uma cela aproximou-se um dervixe que começou a falar da dança”:- Se não posso dançar não posso rezar. Os anjos têm boca, mas não falam, eles falam com Deus por meio da dança.- Qual é o nome que vocês dão a Deus, reverendo? Perguntou o abade.- Não tem nome, respondeu o dervixe. Deus não pode ser comprimido. Um nome é uma prisão e Deus, pelo contrário, é livre.-

Mas quando vocês querem dirigir-se a ele, insistiu o abade, quando se precisa mesmo chamá-lo, como o chamais?- Ah, respondeu aquele, não Allah. Eu o chamo de Ah!O abade estremeceu e murmurou:- Tem razão (...)... Pergunte a eles - pediu-me novamente o abade - como é que se preparam para encontrar a Deus. Jejuando?- Não - respondeu um jovem dervixe, rindo - comemos e bebemos e louvamos a Deus, pois ele doou ao homem a comida e a bebida.- E como vocês louvam a ele então? – insistiu o abade.

- Dançando – respondeu o dervixe mais ancião, com a longa barba branca.- Dançando? – perguntou o abade – por quê?- Porque a dança apaga o ego – explicou o ancião dervixe – e quando o ego está apagado não tem mais nenhum impedimento para juntar-se a Deus.
Os olhos do abade brilharam.- A ordem de São Francisco! – exclamou, apertando a mão do velho dervixe. –também São Francisco caminhava na terra dançando e foi exatamente assim que ele subiu ao céu. Que coisa nós somos, afinal? Nada mais que brincantes de Deus, nascidos para alegrar os corações dos homens. Veja, meu jovem amigo, nós encontramos sempre o mesmo Deus. “

O Sufismo

O Sufismo é mais conhecido como a via mística do Islão. Contudo ele é proibido e perseguido em várias nações islâmicas por os seus preceitos irem contra a sharia. Mesmo em nações que utilizam o popular ritual Dervish de dança como uma atracção turística, a prática da filosofia sufi de autoconhecimento e identificação com o divino é proibida.
No seio duma religião racional na sua essência, o sufismo põe de lado a razão e exalta os sentimentos; a ligação a Deus pelo amor e pelo coração (por isso é conhecido como o Islão do Amor).
A intolerância que o sufismo sofre nos meios islâmicos (ainda nos dias de hoje praticantes sufis são perseguidos e mortos) é mais fácil de entender ao sabermos que não tem origem muçulmana, embora tenha crescido aliado ao islamismo que ajudou a disseminar (principalmente junto dos povos do oriente). Na verdade não se consegue determinar a origem dessa filosofia tão liberal e errática.

Rumi,
Um dos grandes místicos e o poeta mais aclamado do Islão, nasceu em 1207 no Afeganistão e passou grande parte da adolescencia a vaguear pelo Irão e pela Síria na companhia da família, até que finalmente o seu pai encontrou um emprego de professor num colégio teológico da Turquia

Quando o pai morreu Rumi com vinte e três anos ocupou o seu lugar. Aos trinta e sete anos, tudo mudou. Rumi foi abordado por um místico errante que o desafiou a responder a uma questão. Não precisamos de saber qual era a pergunta mas sabemos qual foi o seu efeito. Rumi caiu por terra. O mestre religioso reconheceu a profundidade espiritual da questão e do interrogador e ficou literalmente derrotado.

O interrogador era Shams al-Din, «O Sol da Religião»de Tabriz, que reconheceu o génio espiritual latente em Rumi. Os dois homens tornaram-se inseparáveis, passando dias inteiros na companhia um do outro, perdidos em conversas extasiantes e num amor místico. O efeito exercido sobre Rumi foi a catalisação do seu crescimento espiritual. O efeito exercido sobre os seus negligenciados alunos foi o de semear a inveja e a intriga.Pressentindo o problema, Shams desapareceu.

Rumi era agora um homem muito diferente. O antigo estudioso passava horas a ouvir música, a cantar e a rodopiar. Dos seus lábios e da sua caneta fluía uma estática e espontânea torrente de poesias marcadas por uma delicada beleza e profundidade.
Então, Shams reapareceu subitamente.

Segundo o filho de Rumi, os dois«caíram aos pés um do outro e ninguém sabia quem era o amante ou o amado». Os dois místicos passavam horas perdidos no êxtase e, mais uma vez, surgiu a inveja dos alunos de Rumi. Uma noite, enquanto os dois conversavam, Shams foi chamado até à porta. saiu e nunca mais foi visto. Aparentemente, terá sido assassinado.

Rumi ficou desolado. saiu de casa e perscrutou o país. Por fim em Damasco, a sua busca deu frutos, não a nível físico mas espiritual. Compreendeu que a sua verdadeira natureza era idêntica à de Shams e exclamou: Porque hei-de procurar? Eu sou o mesmo que ele. A sua essência fala através de mim. Tenho andado à procura de mim próprio.

A união mística foi total. Shams era a fonte ea inspiração da eterna torrente de poemas e Rumi criou uma enorme coleção intitulada The Works of Shams of Tabirz. Várias centenas de anos mais tarde, esses e outros poemas de Rumi continuam a ser considerados parte dos maiores tesouros literários do Islão e na década de 90 do século XX, Rumi encontra-se entre os poetas mais vendidos da America do Norte.

O Essencial da Espiritualidade-Roger Walsh

Aberto a todas as formas

Meu coração está aberto a todas as formas:
É uma pastagem para as gazelas,
E um claustro para os monges cristãos,
Um templo para os ídolos,
A Caaba do peregrino,
As Tábuas da Torá,
E o livro do Corão.
Professo a religião do amor,
E qualquer direção que avancem Seus camelos;
A religião do Amor
Será minha religião e minha fé.
Rumi

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